I PROJETO DE PESQUISA DA LEI 1354/88 NAS BIBLIOTECAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Metodologia Empregada
A pesquisa teve início no segundo semestre de 2012 com a definição do perfil das instituições a serem entrevistadas, elaboração de um questionário base, seleção e treinamento dos/das entrevistadores/entrevistadoras, agendamento das entrevistas, pesquisa de campo e, finalmente a compilação, análise dos dados obtidos e apresentação aos órgãos envolvidos e à comunidade em geral.
Para a efetivação da pesquisa contamos com a participação de 1 (uma) coordenadora geral, 1 (uma) coordenadora do projeto, 1 (uma ) auxiliar de coordenação e 6 (seis) entrevistadoras e entrevistador. Entre eles, uma técnica em edificações e estudante de arquitetura, responsável pela amostragem quanto à acessibilidade.
Buscou-se,
desta forma, obter detalhes quanto as dificuldades encontradas por cadeirantes,
deficientes físicos e visuais.
Perfil das Entrevistadoras e Entrevistadores
Os
sete jovens escolhidos residem em espaços populares, com larga experiência em
trabalhos comunitários, matriculados em cursos de graduação ou recém-graduados,
com conhecimento sobre o universo sociocultural de matriz africana.
A
importância desses jovens para a pesquisa não se limitou apenas às entrevistas.
A troca de experiência pessoal durante os encontros contribuiu para a
elaboração e avaliação da pesquisa, pois todos, sem qualquer exceção, assumiram
o papel de agentes de ações cidadãs e críticos das profundas desigualdades
sociais ainda existentes.
Perfil das Bibliotecas
A
Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro
tem em seu quadro 29 bibliotecas
instaladas em prédios fixos localizados em diferentes bairros da cidade, e uma
biblioteca volante. O total das bibliotecas está dividida desde 2011 entre a
Secretaria Municipal de Cultura e a Secretaria Municipal de Educação.
Secretarias
As
bibliotecas sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura recebem a
denominação de Bibliotecas
Populares e as unidades sob a égide da Educação
foram denominadas de Bibliotecas Escolares. (Tabela
1)
Localização
A
maioria das unidades, (41,3%) está
localizada na Zona Norte do Município e a menor concentração no Centro. (Gráfico
1 e Tabela 2).
No
entanto, mesmo a Zona Norte detendo o maior número de bibliotecas, este é ainda
insuficiente para a área total de abrangência. O mesmo acontecendo em maior
escala em Jacarepaguá.
Observou-se
também que, das unidades pesquisadas, 1 (uma) encontra-se fechada por falta de
funcionários e 1 (uma) encontra-se em
obras, fechadas ao atendimento ao público.
Espaço Físico
Há de ressaltar também a precariedade de
algumas unidades, sem espaço suficiente para a locomoção de cadeirantes e
portadores de deficiência física entre as estantes. Percebeu-se também as
péssimas condições de alguns prédios, com infiltrações e umidade tornando o
ambiente impróprio para a conservação do acervo.
Acervo das Bibliotecas da Rede Municipal do Rio de Janeiro
Tabela 2
Acervo Geral de Cultura Negra no Município
Acervo de Matriz Africana no Município do Rio de Janeiro
Em
relação ao acervo de matriz africana, objeto principal da pesquisa,
constatou-se que as bibliotecas da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
consultadas possuem um acervo com cerca 690 publicações. Acervo este, ínfimo
dentro do universo literário geral das bibliotecas. Percebemos também, a
dificuldade enfrentada pela maioria das (os) funcionárias e funcionários entrevistados no processo de
catalogação sobre o tema. Por essa razão,
as publicações encontram-se pulverizadas nas diferentes seções.
Somente
1,07% do acervo total abordam como tema as matrizes africanas.
Acervo Bibliotecas de Jacarepaguá , Cidade Nova e Santa Cruz
Foto: Aline Lima
Entre
as instituições entrevistadas, 100% declararam desconhecer a exigência legal (Gráfico
3). No entanto, todas elas possuem em
maior ou menor quantidade, títulos referentes à cultura africana e
afro-brasileira. (Tabela
2).
A quantidade do acervo está diretamente
ligado ao envolvimento e a boa vontade do responsável com a questão e não ao
cumprimento da Lei nº 10.639/2003 e da Lei nº 1354/1988.
Mesmo
sendo uma legislação promulgada há 24 anos, precisamente em 10 de novembro de
1988, percebe-se pelo desconhecimento da maioria dos entrevistados, que faltou
a devida divulgação sobre a Lei nº 1354/88.
Cabe
aqui, no entanto, ressaltar o interesse demonstrado por algumas unidades, que
buscaram informações, através do CADON, sobre o conteúdo da referida lei.
Percebeu-se,
no entanto, que alguns funcionários das unidades acharam desnecessário a
pesquisa e a necessidade do cumprimento a lei.
A
presente pesquisa não computou o acervo da
Biblioteca Escolar do Grajaú Clarice Lispector e das duas unidades de
Copacabana, pois, mesmo o entrevistador portando toda a documentação e o ofício
de apresentação, foi solicitada uma autorização
da Secretaria Municipal de Educação, com o anuência dos CRE’s,
fato não exigido nas demais unidades.
Das
trinta bibliotecas municipais, 4 (quatro) têm como patrono personalidades
afro-brasileiras. São elas:
O
historiador e escritor Joel Rufino dos Santos, escreveu certa vez que os negros como
os índios são mudos para a História.
Hoje, quando o segmento populacional de origem africana soma-se a mais de 50%
da população do país faz-se necessário repensar a visão eurocêntrica que ainda
impera no Brasil.
Em
um momento histórico em que se implementam na cultura e na educação leis inclusivas sobre a História e a Cultura
de África e do ser humano negro na diáspora; em um momento histórico em que se
busca dar visibilidade a uma grande fatia de brasileiros de origem africana até
então ocultos; em um momento em que se enfatiza a diversidade cultural, o
multiculturalismo, esta pesquisa torna-se um instrumento eficaz na busca de
caminhos que minimizem as desigualdades raciais seculares. A educação e a
cultura oferecem os caminhos. Ler é obter conhecimento e conhecimento torna o
ser humano livre.
Pesquisas
recentes, como a executada exaustivamente pelo Professor Kabenguele Munanga em 100 Anos e Mais de Bibliografia
Sobre o Negro no Brasil apontam
uma infinidade de títulos sobre o assunto. Parcerias entre órgãos como a
Fundação Cultural Palmares e a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através
do COMDEDINE – Rio, podem ser firmados visando abastecer as bibliotecas da Rede
Municipal. Rodas de conversa, com autores engajados, tarde de autógrafos, chás literários são
algumas sugestões.
Por
fim, nossos agradecimentos as bibliotecárias e aos bibliotecários, as funcionárias e
aos funcionários das bibliotecas do Município do Rio de Janeiro que gentilmente
nos concederam as entrevistas,
Coordenadores e Entrevistadores da
Pesquisa.
(1) Santos, Joel Rufino dos. Zumbi.
São Paulo: Moderna, 1985.
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